Lisboetas gostam dos seus bairros e mais ainda quem mora em Telheiras (in Público 29-7-2012)
Investigadores mergulharam em seis comunidades para perceberem o que é isso dos bairros, de que relações são feitos. E descobriram que o bairro de cada qual é o melhor de todos. O vector felicidade está agora identificado como sendo fundamental para a construção do bairro.
"O que surge nos inquéritos é que, na generalidade, as pessoas estão satisfeitas com os seus bairros", aponta Filipa Ramalhete. Especifica que não há diferenciação entre os mais antigos ou mais recentes: "Todos estão igualmente muito satisfeitos, não só com o bairro, mas também com o prestígio do mesmo." "Defendem o seu bairro, e assim definem-se a si próprios. Mesmo que nem todos sejam iguais no seu tecido social, a Graça não é igual a Telheiras. "Nos inquéritos nota-se grande importância dada à relação entre a zona residencial e o serviço comercial local. Para se ser bairro tem de haver comércio, que promove a vivência de rua. "Na Ajuda, que é um conjunto de bairros, mas que têm identidade comum, tem palácio, tem quartéis, há o 2 de Maio (bairro social) e há a Ajuda, onde se abastecem. Ali é o centro que agrega os bairros e a própria freguesia. Dizemos que a Ajuda é Lisboa em miniatura", observa a investigadora. É o comércio de proximidade o elemento agregador, afirma. São dados iguais aos que foram recolhidos em Telheiras e na Graça, o que a equipa diz ser surpreendente. "Mas a Ajuda tem problemas, de relacionamento com grupos étnicos, é um tecido mal cosido. É como a história de Lisboa após a revolução industrial. Até lá, todos viviam em comunidade, depois as classes separaram-se", recorda a professora.Com a anunciada reorganização administrativa da cidade, admitem os investigadores que tudo vai continuar na mesma. "O que interessa às pessoas é saber onde fica o centro de saúde. Não a junta, que serve para as classes desfavorecidas. Para a classe média, ela de pouco ou nada serve", considera Nuno Soares.
"Todos falamos nos bairros, mas os urbanistas não sabem o que é o bairro, pois são palavras cujos conceitos são indefinidos. Até temos falado na figura do gestor de bairro. Lisboa vai ser dividida por unidades. É uma ideia forte, mas deveria nascer de outra forma de democracia, não a partir da estrutura política convencional, mas de consenso das forças vivas do bairro. Ninguém fala disto, mas pode haver uma assembleia de administradores de condomínios do bairro, uma comissão de bairro"
Segundo os dados retirados das respostas já trabalhadas pela equipa de investigação, o mais elevado grau de satisfação com alguns aspectos do bairro encontram-se no comércio, no prestígio [do bairro] e nos habitantes [vizinhos], situações estas referidas nos inquéritos em Telheiras, Graça e Campo de Ourique. Nos mesmos locais, o ponto de mais baixa satisfação encontra-se na dificuldade de estacionamento. Para um registo médio de satisfação naqueles bairros foi salientado o capítulo da segurança. Segundo a conclusão da equipa de investigadores, são referidas como necessidades os equipamentos de proximidade e que se destinam à actividade desportiva e também as zonas verdes. O comércio de proximidade é frequentemente invocado como premente para os moradores dos bairros lisboetas. "Pensando à escala local, numa escala de sossego, as pessoas agora não querem, necessariamente, enfiarem-se ao fim-de-semana num hipermercado", sublinham os investigadores responsáveis pelo estudo.
Bairros de Lisboa 2012, é um estudo levado a cabo por uma equipa de investigadores do Centro de Estudos de Arquitectura, Cidade e Território (CEACT) da Universidade Autónoma de Lisboa realizou durante mais de um ano, sob coordenação de Ana Filipa Ramalhete, com a colaboração de Nuno Pires Soares, do Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional (e-Geo) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
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