Vamos ver se percebi:
1 - Os Estaleiros de Viana tiveram dúvidas sobre a fiabilidade dos valores do projecto do Atlântida logo ao início da construção. Pediram novos testes, à empresa russa Petrovalt (sugerida pelo armador/governo açoreano), mas o modelo havia sido destruído, situação que contraria a prática comum neste tipo de teste em que o modelo é preservado por um período de cinco anos. Apesar de impossibilitada de comprovar os resultados iniciais, a empresa decidiu continuar com a construção, mesmo assim (só possível numa empresa pública, em que a responsabilidade pelos erros de gestão é de todos, menos dos que as cometem);
2 - O navio possui características específicas feitas à medida do cais dos Açores. A porta de ré, para acesso das viaturas, com abertura lateral é disso exemplo. Mas há outras. O calado do navio, específico para as condições de mar e de cais dos Açores, acabou por contribuir para o impasse em que se encontra há quase cinco anos, onde apesar de alguns interessados internacionais, o navio nunca conseguiu ser vendido;
3 - Perante a evidência da falta de estabilidade do navio, os ENVC são forçados a introduzir alterações estruturais que contribuíram para o peso de deslocamento do navio. O navio deveria ter apresentado um calado de imersão de 4,6 metros mas atingiu os cinco metros.
4 - Durante a construção, o armador pede várias alterações ao projecto inicial:
- De sete suites, o navio passou a ter 20 e mais sete camarotes quádruplos, o que obrigou a reposicionar as unidades de ar condicionado e o gerador de emergência, máquinas que chegam a pesar toneladas face à dimensão do navio. O equipamento foi colocado dois decks acima do previsto, mudança que implicou uma subida do centro de gravidade da embarcação. Para recuperar a estabilidade, os estaleiros tiveram que introduzir 130 toneladas de lastro sólido para baixar o centro de gravidade do Atlântida.
- Substituição do impulsor de proa de 800 Kwh por dois de 600 Kwh cada. Esta substituição naturalmente contribuiu ainda mais para o aumento de peso e também do atrito na deslocação na água e, por consequência, para a redução da velocidade.
- A capacidade prevista no projecto inicial apontava para 12 mini-bus. Este número caiu para oito para aumentar o número de viaturas ligeiras. No total, a embarcação passou a poder transportar 127. O que implicou alterações estruturais de aço significativas, também com repercussões no peso.
E com tudo isto ainda queriam que o navio mantivesse as características de velocidade inicialmente previstas. Era obvio que tal seria impossível. E é precisamente por isso que os Açores recusam o navio (bem como o outro previsto, que nunca foi concluído, não sendo hoje mais que um monte de sucata enferrujada).
Tudo isto se passou durante a gestão de Governos Socialistas, de José Sócrates (Republica) e Carlos César (Açores) e numa empresa pública, paga por todos nós, que pelo que se pode concluir, tudo permitiu. Uma vergonha!!!
Mas até há bem pouco tempo, Comissão de Trabalhadores, Pres da Câmara Municipal de Viana do Castelo (por coincidência socialista), PCP, BE e PS nada disseram. Agora que o Governo encontrou uma solução, que permite manter a construção naval em Viana do Castelo e que defende os trabalhadores, mas que liberta o estado deste enorme fardo financeiro, agora sim vêm todos protestar, mas sem sugerirem uma alternativa.
Argumentam os sindicatos que a nova empresa privada que vai assumir a gestão dos ENVC, nada percebe de construção naval. Mas será que os que por lá passaram nos últimos largos anos, nomeadamente desde 2003, percebiam alguma coisa? É que dos 22 navios entregues entre 2003 e 2013, 20 deram prejuízo, a que somam os mais de 70 milhões de euros pelos 2 navios encomendados pelo Governo Regional dos Açores.
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