Subscrevo o texto da minha amiga Paula Carloto, publicado esta semana no Entroncamentoonline. Lúcido, simples e claro. Como o povo diz, "para bom entendedor, meia palavra basta", e já que os meus 2 filhos mais velhos estão longe - França e Dinamarca, eu também tenho um sonho, que pelo menos o mais pequeno possa ficar a viver, estudar e trabalhar em Portugal.
No rol… Carta a Pedro Passos Coelho
Caro Pedro
Conhecendo-te e respeitando o teu empenho e dedicação à causa pública e, sobretudo, apelando à coragem que te caracteriza, cumpre-me hoje dizer-te o seguinte:
O povo cumpriu e continua a cumprir a sua parte. Deu-te um mandato claro nas eleições e, conformando-se com o enquadramento económico-financeiro do País, respeitou integralmente as tuas opções governativas. Em termos práticos, compreendeu a necessidade das reformas e mudou de vida: diminuiu o consumo privado, prescindiu de excessos e até, às vezes (para muita gente, muitas vezes), por força das circunstâncias, prescindiu do essencial.
Mas as novas medidas já são de difícil compreensão. Sobretudo porque não têm associado nada que seja exemplificativo de que o sacrifício é exigível (e exigido) a todos. Faltam disso exemplos concretos, percecionados e entendidos pela generalidade dos cidadãos, que credibilizem a atuação do Primeiro-Ministro e do Governo.
Desculpa que te diga, mas, às vezes, parece que tens falta de gente à tua volta que, completamente fora dos circuitos do poder político, te traduza como é a vida real no País e quais são os mais elementares sentimentos do povo que diriges.
Sabemos, como sempre soubemos, que na política, tal como na vida, há melhores e menos bons, competentes e menos competentes, e também honestos, escrupulosos, trabalhadores e o seu contrário.
Também sabemos que, enquanto o sistema politico se organizar de forma a permitir e potenciar a promoção económica e /ou social de quem se associa ao sistema de representação politica, é mais difícil fazer equivaler o seu exercício às noções de credibilidade, respeitabilidade e sentido de serviço à res publica.
Embora seja velha a máxima de que “só deve vencer na política quem venceu na vida”, talvez nada disso interesse agora (talvez não seja isso, neste momento, o mais importante). Mas há uma coisa que interessa sublinhar: tens agora o poder para dar esse exemplo. E tens que o dar
Tens o poder para pôr em prática os mais elementares princípios e valores da social-democracia e, por favor, não deixes que nem esses, nem a tua honradez sejam objeto de qualquer tipo de confundibilidade. Por ti e por todos nós!
Precisas de manter a paz social e já não há ignorantes e desinformados na sociedade portuguesa do século XXI. As pessoas vão perceber o teu esforço mas precisam que ele seja concreto e visível.
Está na altura, como, aliás. devia ter estado sempre, de cumprir com o dito popular de que “o exemplo vem de cima”.
E, porque é essencial que a estabilidade governativa e a paz social se mantenham, não deixes que a firmeza da tua vontade, tolde a tua perceção.
Desvaloriza a guerrilha política e os contornos político-partidários das eventuais convulsões dentro da coligação de Governo. Há valores, como sabes, mais importantes agora.
Demonstra, sem equívocos, que, também na política, o paradigma tem que mudar.
É o tempo da reforma do sistema político que nunca se fez.
E é o tempo de exemplos claros, concretos e imediatos na diminuição de gastos com os políticos, propondo, entre outros, que se prescinda de senhas de presença no exercício de funções públicas, a redução do número de deputados, a extinção de empresas públicas e fundações com prazo marcado, e não com grupos de estudo, e a reforma integral do setor empresarial do Estado.
O que está em causa, em muitos casos, não é, como se percebe, o significado económico das medidas, mas a moralidade do exercício das funções públicas e a noção de justiça e solidariedade na repartição do esforço.
Esperamos muito de ti! E estamos cá para ajudar. Mas também nós precisamos de sinais!
Sinais que indiquem que nunca te esqueces dos princípios e valores que partilhamos e das causas que defendemos desde os 15 anos de idade.
Peço-te, por isso, que oiças, com muito carinho e atenção, o slogan de alguns dos jovens da manifestação de 15 de Setembro:
“Nós temos um sonho…viver em Portugal”.
1 comentário:
É só para dizer...BRAVO!
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