sexta-feira, 20 de junho de 2014

Chico Buarque, 70 anos


Só alguém grande como Caetano Veloso, poderia fazer tamanha dedicatória, a um dos maiores interpretes da língua Portuguesa.

Aprendi a ouvir e a gostar de Chico Buarque, quando ouvi pela primeira vez a sua "A Banda". Tinha 3 anos quando Chico lançou aquela que é para mim ainda hoje, uma das suas melhores músicas. Não me lembro quando a comecei a ouvir, mas lembro-me muito bem de a ouvir muito antes de ir para a escola, teria para aí 4 ou 5 anos, e de a minha mãe me dizer que a ouvia vezes sem conta e sempre que a ouvia transbordava de alegria. 

Desde esses momentos, até hoje, Chico Buarque, nunca deixou de nos surpreender.

Parabéns Chico! E venham mais 70!!

De Caetano Veloso:
"Chico chega aos setenta (e até agosto sou apenas um ano mais velho do que ele, prazer de dois meses a cada ano). O Brasil é capaz de produzir um Chico Buarque: todas as nossas fantasias de autodesqualificação se anulam. Seu talento, seu rigor, sua elegância, sua discrição são tesouro nosso. Amo-o como amo a cor das águas de Fernando de Noronha, o canto do sotaque gaúcho, os cabelos crespos, a língua portuguesa, as movimentações do mundo em busca de saúde social. Amo-o como amo o mundo, o nosso mundo real e único, com a complicada verdade das pessoas. Os arranha-céus de Chicago, os azeites italianos, as formas-cores de Miró, as polifonias pigmeias. Suas canções impõem exigências prosódicas que comandam mesmo o valor dos erros criativos. Quem disse que sofremos de incompetência cósmica estava certo: disparava a inevitabilidade da virada. O samba nos cinejornais de futebol do Canal 100, Antônio Brasileiro, o Bruxo de Juazeiro, Vinicius, Clarice, Oscar, Rosa, Pelé, Tostão, Cabral, tudo o que representou reviravolta para nossa geração foi captado por Chico e transformado em coloquialismo sem esforço. Vimos melhor e com mais calma o quanto já tínhamos Noel, Haroldo Barbosa, Caymmi, Wilson Batista, Ary, Sinhô, Herivelto. A Revolução Cubana, as pontes de Paris, o cosmopolitismo de Berlim, o requinte e a brutalidade de diversas zonas do continente africano, as consequências de Mao. Chico está em tudo. Tudo está na dicção límpida de Chico. Quando o mundo se apaixonar totalmente pelo que ele faz, terá finalmente visto o Brasil. Sem o amor que eu e alguns alardeamos à nossa raiz lusitana, ele faz muito mais por ela (e pelo que a ela se agrega) do que todos nós juntos.

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