Curioso artigo publicado em “A Lanterna”, a 17 de Dezembro de 1870 e que mais não é que um espelho da triste realidade de esbanjamento e mau uso dos dinheiros públicos, a que assistimos nos 6 anos de governo de um tal engenheiro e que nos deixou na situação financeira de dependência do exterior, em que hoje (e espera-se que por pouco mais tempo) ainda vivemos, mas que para muitos parece ser culpa dos que agora e nos últimos 2 anos, tentam resolver o buraco então criado, em anos de folia continua.
Dizia assim:
“O governo português anda mendigando em Londres um novo empréstimo.
Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois métodos de governo: Empréstimos e impostos.
Por um lado, o governo mandou para as cortes uma carregação de propostas tendentes todas a aumentar de tributos; por outro lado, o governo vai negociar um empréstimo no estrangeiro.
É dinheiro emprestado e dinheiro espoliado.
Pede-se primeiro aos agiotas para pagar às camarilhas; depois tira-se ao povo para pagar aos agiotas!
E ao passo que se trata de um empréstimo em Londres, negoceia-se outro empréstimo com os bancos nacionais.
Este tem carácter de dívida flutuante (dívida pública a curto prazo) interna e é para pagamento da dívida consolidada (dívida pública sem prazo de reembolso) externa!
Este empréstimo que nos está às costas para pagamento no fim de três meses, sai na razão de 13/2%!
E no fim não é dinheiro aplicado a nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros da dívida!
É a dívida a endividar-nos cada vez mais! É a dívida a crescer para pagar as sinecuras do estado! É a dívida a multiplicar-se para não faltarem à corte banquetes, festas, caçadas, folias!
Esta situação é terrível e tanto mais que ela exige para se não agravar, de sacrifícios com que o país não pode e que de mais não deve fazer, quando eles são penas destinados às extravagâncias da corte e ao devorismo do poder, no qual se inscreve agora o novo subsídio aos pais da pátria!"
Tirando a alusão à monarquia reinante há época, o local e método de financiamento, este é um texto actual e que mostra bem que ao longo dos anos, nada aprendemos com os erros do passado. Portugal não pode continuar a querer viver acima das suas possibilidades, pois senão o nosso problema deixa de ser o de sabermos se a origem dos nossos males é o de uma divida interna ou externa exagerada, para passarmos a ter uma divida eterna, com todas as consequências que isso traz para o desenvolvimento nacional e para o bem estar das famílias portuguesas e que hoje bem conhecemos.
O enorme esforço que hoje é pedido aos portugueses, não pode voltar a ser posto em causa por governantes que apenas pensam nas eleições seguintes, não olhando a meios para as vencerem e empenhando gravemente o futuro das gerações futuras.
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