Subordinado ao título "Calçada portuguesa: tradição ou maldição?" o Expresso publica um artigo, que é um ataque totalmente despropositado e tendencioso à calçada portuguesa, dando no sub-titulo a quase certeza do seu fim: "Acabou o tabu sobre o mais típico pavimento português. A calçada portuguesa pode estar, em nome da acessibilidade, no princípio do fim". Nada de mais falso!
O artigo tem por inspiração a pseudo e ilegal consulta popular realizada em Campolide e é lamentável que o Expresso não tenha analisado os contornos deste pseudo referendo, nem referido a verdadeira dimensão de uma votação em que a taxa de abstenção foi de 97%. É com artigos como este, em que não é feita a mínima pesquisa, seguindo-se pelo caminho mais fácil e populista, que o Expresso tem perdido uma parte importante da sua reputação.
Para além disso, ao dar força à substituição da calçada portuguesa, como na referida pseudo consulta, o Expresso volta a cair no mesmo erro e na mesma demagogia do Presidente da Junta de Campolide, referindo apenas a sua substituição por outro tipo de piso, sem referir qual a solução.
Também a participação/entrevista a Pedro Homem de Gouveia, um dos responsáveis pelo plano de acessibilidade pedonal de Lisboa, é altamente tendenciosa, nomeadamente quando argumenta que os idosos, entre outros, preferem circular na faixa de rodagem, por causa dos buracos nos passeios, pois esquece-se de referir, que nomeadamente em Campolide, de onde é dado um desses exemplos, os peões preferem circular na faixa de rodagem, não por causa da calçada portuguesa, mas porque os carros estacionam em cima dos passeios, impedindo uma livre circulação dos peões e danificando irreparavelmente a calçada portuguesa. E isto apenas acontece por falta de fiscalização, nomeadamente por parte da CML. Mais, também não apresenta dados que justifiquem a afirmação de que "os peões que caminham na estrada representam a terceira causa de atropelamentos em Lisboa" e que isso se deve à calçada portuguesa, na medida em que afirma que não existem dados estatísticos sobre esta relação.
Para este assalariado da CML, que devia em primeiro lugar defender um dos principais símbolos de Lisboa, reconhecido internacionalmente, apenas existem defeitos na calçada portuguesa. Uma série de desculpas esfarrapadas, que apenas tentam justificar o injustificável e que mais não é do que a tentativa de, aos poucos se ir acabando com a calçada portuguesa, postura de que a actual vereação socialista da CML tem sido o principal impulsionador, em vez de se apostar seriamente na sua manutenção com qualidade.
Mas lamentável é também o fim do artigo, na parte em que supostamente são referidos os locais onde há calçada artística em Lisboa - 27, segundo Expresso. Ainda menos que os 29 a que a CML reduziu os locais onde diz que a calçada artística será preservada. Tal só se pode admitir se quem escreveu o artigo nunca tiver estado em Lisboa e como tal não conhecer a cidade.
Pior ainda que o número de locais é o facto de dois dos primeiros locais referidos, infelizmente já não terem calçada artística, pois a CML fez o favor de já a ter retirado - Praça do Comércio e Rua da Vitória (e aqui). Teria sido bom que a jornaleira do Expresso se tivesse dado ao trabalho de confirmar, local a local, se ainda lá existia calçada portuguesa e de verificar o estado em que o tal tão bom e milagroso "outro piso" se encontra.
Felizmente que ainda há quem defenda e bem a calçada portuguesa. Apesar de um artigo totalmente tendencioso pelo fim da calçada portuguesa em Lisboa, o Expresso lá deu um pequeno espaço aos defensores da calçada portuguesa que desde que bem feita e mantida é "o chão mais confortável do mundo".
Quanto às virtudes do tão propagado "outro tipo de piso" debruçar-me-ei noutro post.
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